segunda-feira, 27 de julho de 2009

Textos de minha autoria

Olá a todos,

Algumas pessoas tem perguntado sobre textos sobre o meu trabalho. Na realidade, havia prometido postar alguma coisa sobre isto.

Estou negociando com algumas pessoas para colocar seus textos sobre meu trabalho. Em alguns casos irei colocar links de textos interessantes sobre ele. Além disso, irei colocar alguns dos meus escritos, e começo com os textos abaixo.

Espero que apreciem.

Rosana



A RESPEITO DOS TRABALHOS EXPOSTOS
Este texto foi produzido para o catálogo do Panorama 97 – MAM SP, sobre, dentre outros, o trabalho abaixo.


Imagem da série Bastidores. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha de costura. 30cm diametro. 1997.


Sempre pensei em arte como um sistema que devesse ser sincero. Para mim, a arte deve servir às necessidades profundas de quem a produz, senão corre o risco de tornar-se superficial. O artista deve sempre trabalhar com as coisas que o tocam profundamente. Se lhe toca o azul, trabalhe, pois, com o azul. Se lhe tocam os problemas relacionados com a sua condição no mundo, trabalhe então com esses problemas.

No meu caso, tocaram-me sempre as questões referentes à minha condição de mulher e negra. Olhar no espelho e me localizar em um mundo que muitas vezes se mostra preconceituoso e hostil é um desafio diário. Aceitar as regras impostas por um padrão de beleza ou de comportamento que traz muito de preconceito, velado ou não, ou discutir esses padrões, eis a questão.

Dentro desse pensar, faz parte do meu fazer artístico apropriar-me de objetos do cotidiano ou elementos pouco valorizados para produzir meus trabalhos. Objetos banais, sem importância. Utilizar-me de objetos do domínio quase exclusivo das mulheres. Utilizar-me de tecidos e linhas. Linhas que modificam o sentido, costurando novos significados, transformando um objeto banal, ridículo, alterando-o, tornando-o um elemento de violência, de repressão. O fio que torce, puxa, modifica o formato do rosto, produzindo bocas que não gritam, dando nós na garganta. Olhos costurado, fechados para o mundo e, principalmente, para sua condição no mundo.

Apropriar-me do que é recusado e malvisto. Cabelos. Cabelo “ruim”, “pixaim”, “duro”. Cabelo que dá nó. Cabelos longe da maciez da seda, longe do brilho dos comerciais de shampoo. Cabelos de negra. Cabelos vistos aqui como elementos classificatórios, que distinguem entre o bom e o ruim, o bonito e o feio.

Pensar em minha condição no mundo por intermédio de meu trabalho. Pensar sobre as questões de ser mulher, sobre as questões da minha origem, gravadas na cor da minha pele, na forma dos meus cabelos. Gritar, mesmo que por outras bocas estampadas no tecido ou outros nomes na parede. Este tem sido meu fazer, meu desafio, minha busca.



Rosana Paulino, 1997

4 comentários:

Aine Scannell disse...

Beautifully expressed Rosana, even in translation

Aine

Cláudio Rebello disse...

Olá Rosana,
Parabéns pelo seu brilhante texto,você é muito clara e coerente com os seus propósitos , o que me chamou muito atenção , já era um grande admirador da sua poética e agora virei fá de carteirinha , uso em minhas aulas como forma de demonstração do compromisso que a arte tem com o cotidiano das pessoas.
cláudio rebello
arte educador -salvador -ba

Unknown disse...

Olá, parabéns pelo trabalho! Também acredito que a manifestação artística deve ser algo extremamente sincero, algo extremamente pessoal e único, portanto trabalhar o sentimental humano, a visão que se tem do mundo exterior, expondo ao mesmo tempo o nosso interior. Por muitas vezes tento ver o mundo em que vivo em diferentes perspectivas e tentar assim encontrar nele meu lugar, mesmo sendo incompreendida, nunca deixo de tentar, carrego em mim essa batalha de tentar sensibilizar e tocar o outro de forma que esse outro possa se encontrar talvez dentro das minhas dúvidas, pensamentos e idéias... Ser mulher, ser jovem, ser instruída, carregar no peito nossas verdades em busca sempre de ser compreendida (ou não).

Unknown disse...

Olá, parabéns pelo trabalho! Também acredito que a manifestação artística deve ser algo extremamente sincero, algo extremamente pessoal e único, portanto trabalhar o sentimental humano, a visão que se tem do mundo exterior, expondo ao mesmo tempo o nosso interior. Por muitas vezes tento ver o mundo em que vivo em diferentes perspectivas e tentar assim encontrar nele meu lugar, mesmo sendo incompreendida, nunca deixo de tentar, carrego em mim essa batalha de tentar sensibilizar e tocar o outro de forma que esse outro possa se encontrar talvez dentro das minhas dúvidas, pensamentos e idéias... Ser mulher, ser jovem, ser instruída, carregar no peito nossas verdades em busca sempre de ser compreendida (ou não).