quinta-feira, 20 de agosto de 2009

FALTA DE DESENHO






Desenhos da série Carapaça de proteção – Aquarela, acrílica e grafite sobre papel - 32,5 x 25,0 cm – 2003

Mundurucu. Desenho da série Tecelãs. Grafite e Aquarela sobre papel. 32,5 x 25,0 cm. 2003.





Mãe e Filha - Cegas. Desenho da série Tecelãs. Grafite e Aquarela sobre papel. 2003.




Kali. Desenho da série Tecelãs. Grafite e Aquarela sobre papel. 2003





Tenho sentido falta de desenho neste blog. Portanto, resolvi revisitar algumas obras antigas e selecionei estas para o blog.
Achei também que seria interessante colocar um texto de Matisse sobre como o desenho representa a vida, ao invés de apresentar a realidade. Espero que gostem. É um dos meus preferidos.

Inté,

Rosana
CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENHO DA ÁRVORE (H.MATISSE)


MATISSE, Henri. Escritos e reflexões sobre arte. Editora Ulisséia, Portugal, s.d - págs. 161/162


Mostrei-lhe, não é verdade, os desenhos que fiz nestes últimos tempos para aprender a representar uma árvore, as árvores? Como se nunca tivesse visto, nunca tivesse desenhado árvores. Vejo uma da minha janela. Tenho de compreender pacientemente como se faz a massa da árvore e depois a própria árvore, o tronco, os ramos, as folhas. Primeiro, os ramos que se dispõem simetricamente, num só plano. Depois, como os ramos viram, passam à frente do tronco... Não interprete mal: não quero dizer que, ao ver a árvore da minha janela, o meu trabalho seja copiá-la. A árvore é também todo um conjunto de efeitos que exerce sobre mim (grifo meu). Não se trata de desenhar uma árvore que vejo. Tenho à minha frente um objeto que exerce uma ação sobre o meu espírito, não apenas como árvore, mas também em relação a outros sentimentos de toda a espécie... Não me libertarei da minha emoção copiando a árvore com exatidão, ou desenhando as folhas uma a uma na linguagem corrente... Só depois de me ter identificado com ela. Tenho de criar um objeto que se assemelhe à árvore. O sinal da árvore. E não o sinal da árvore tal como existiu noutros artistas... por exemplo, nos pintores que aprenderam a fazer a folhagem desenhando 33, 33, 33, como manda contar o médico que ausculta... Isso é apenas o resíduo da expressão dos outros... Os outros inventaram o seu sinal... Retomá-lo é retomar uma coisa morta: o ponto de chegada das emoções deles e o resíduo da expressão dos outros não pode estar em relação com o meu sentimento original. Veja: Claude Lorrain, Poussin, tem maneiras próprias de desenhar as folhas de uma árvore, inventaram a sua maneira de exprimir as folhas. De uma maneira tão hábil que se diz que desenharam as suas árvores folha por folha. Simples maneira de dizer: na verdade, talvez tenham representado cinqüenta folhas em vez de duas mil. Mas a maneira de colocar o sinal folha multiplica as folhas no espírito do espectador, que vê duas mil... Tinham a sua linguagem pessoal. Tornou-se depois uma linguagem conhecida, tenho de encontrar sinais que estejam em relação com a qualidade da minha invenção. Serão sinais plásticos novos que entrarão por sua vez na linguagem comum, se o que disser através deles tiver importância para outro. A importância de um artista mede-se pela quantidade de novos sinais que tiver introduzindo na linguagem plástica.


Excerto de “Matisse en France”, 1942 (Henri Matisse, roman, Paris, Gallimard, 1971)

Um comentário:

Julmara disse...

Oi Rosana! Que alegria encontrar seu blog!Tive contato com seu trabalho no ano de 2006, enquanto pesquisava acerca de meu TCC de Licenciatura me Artes Visuais. Meu tema de pesquisa era a aplicação da Lei 10.639 na disciplina de Artes da Escola Pública.Uma das artistas com a qual trabalhei foi vc.Estou desenvolvendo no momento um trabalho com crianças de 3ª série acerca de sua obra "Parede de Memória", dentro de um projeto maior que visa despertar o olhar das crianças para a arte e cultura africana e afro-brasileira.Gostaria de poder lhe mostrar os resultados.Parabéns por seus trabalhos!